Braden Holtby, Tuuka Rask entre aqueles que se beneficiam por tocar um instrumento musical.
Autor: Kevin Woodley
Fonte: www.nhl.com
Data: 22/03/2017
O goleiro do Washington Capital, Braden Holtby, toca guitarra nas tardes dos dias de jogo para relaxar e entrar bem concentrado no jogo da noite, mas o vencedor do Troféu Vezina de 2016 também sabe que esta terapia pode ajudar suas mãos.
Pesquisas indicam que tocar guitarra ajuda a pegar pucks, porque as duas atividades desenvolvem os mesmos circuitos neurais – conecta os olhos, cérebro e mãos – usados para defender.
Holtby disse que a conexão entre as duas atividades faz sentido. Mais importante, ele sente que realmente ajuda.
“É engraçado porque quando se começa a tocar guitarra parece que os dedões estão moles”. “E então quando se evolui no ritmo, mesmo fazendo coisas que não tenham a ver com a guitarra, se sente que as mãos estão mais coordenadas”.
Holtby cresceu cercado de música e aprendeu sozinho a tocar guitarra enquanto jogava nas categorias de base em Sakatoon. Ele adicionou música à sua rotina dos dias de jogos aos dois meses da temporada passada quando seu empresário lhe deu uma “guitarra para viagem”, para que ele pudesse tocar enquanto o Washington estivesse viajando. Pouco depois, a guitarra apareceu no rink de treino do Capitals para que ele pudesse tocar em casa após o treino matinal.
“Melhorei nos últimos anos”. “Consigo ouvir uma canção, olhar a tablatura e tocar de primeira”.
Nada disso surpreende Ted Monnich, ex goleiro profissional que trabalha coma psicólogo do esporte e treinador mental de goleiros de todos os níveis na América do Norte e Europa. Monnich, que já trabalhou com a filial de Charlotte do Carolina Hurricanes na AHL, começou a rastrear a relação entre goleiros e guitarras em 2003 depois de perceber sua própria melhora ao começar a tocar guitarra antes dos treinos. Ele pesquisou goleiros das ligas menores e encontrou uma relação de incremento das defesas com as luvas para aqueles que tocavam guitarra pouco antes das partidas, algo que ele chama de resposta cinestética.
“Quando observamos o que faz um músico, seja ler uma canção ou memorizá-la, eles respondem a um estímulo com as mãos”. “O estímulo do goleiro é ver o puck vir do taco. O estímulo do músico é normalmente o compasso anterior, ouvir isto, ouvir os padrões é o que desencadeia a resposta de suas mãos. Estamos lidando com uma porção do sistema nervoso central que faz a mesma coisa, ou que tem alguma relação. Um reforça o outro. Tocar música reforça as defesas com as mãos”.
Este efeito não se limita somente à guitarra, apesar dela parecer ser o instrumento favorito dos goleiros.
O goleiro do New York Rangers, Henrik Lundqvist uma vez mandou ver “Sweet Child O´Mine” do Guns n’ Roses durante The Tonight Show Starring Jimmy Fallon. Ryan Miller do Vancouver Canucks, Mike Smith do Arizona Coyotes e Cory Schneider do New Jersey Devils, todos tocam, assim como os aposentados goleiros Jose Theodore, Brent Johnson e Robert Esche. A maioria vê a guitarra como uma terapia, um método de relaxamento, mas como Holtby o ex goleiro Sean Burke, que já chegou a tocar no mesmo palco que Garth Brooks, as vezes traz sua guitarra para tocas nas viagens.
“Acho que música ajuda”. Disse Holtby. “Manter a cadência, sentir o ritmo, envolve muito mais coisa que as pessoas supõem”.
Tuuka Rask do Boston Bruins aprendeu a tocar bateria aos nove anos em uma escola de música da Finlândia e voltou a tocar quando mudou para a América do norte há 10 anos.
“Envolve coordenação, então tenho certeza que há uma relação”, disse Rask, de 30 anos, sobre as similaridades.
Matt Murray, do novato campeão com o Pittsburgh Penguins, ainda toca piano nas suas folgas e já tentou a guitarra, instrumento que seu irmão toca profissionalmente em Toronto.
“Toco até decentemente, mas é difícil evoluir. Acho que quem é capaz de dominar um instrumento se beneficia da habilidade necessária para isto”, disse Murray.
Monnich pergunta a seus goleiros sobre qualquer atividade criativa que façam fora do gelo e lembra que Jacques Plantke (integrante do Hall da Fama do hockey) pintava retratos. Um profissional uma vez disse a Monnich que era bom em fazer vasos cerâmicos e que também utilizava a guitarra para desenvolve suas habilidades.
Monnich disse não ficar surpreso por Rask e Murray tocarem instrumentos diferentes da guitarra e que o trabalho com os pés também precisa de auxílio.
“Para tocar os pedais de um piano ou bateria, há um tempo muito específico para se fazer isso no tempo certo e não há tempo de pensar sobre o que se está fazendo, então a pessoa tem que se condicionar a fazer”. “Há uma resposta ali, um caminho neural específico para os pés que somente é ativado quando recebem um determinado estímulo e quem pensa no que está fazendo atrapalha o andamento. Nosso sistema nervoso contorna nossa mente consciente para dar a devida resposta. Exatamente como um goleiro que reage a um puck vindo em direção a ele: há o estímulo e há a resposta”.
Mesmo que faça sentido para Murray, não se deve esperar que ele asse a seguir a nova rotina de Holtby.
“Não, eu não vou levar um teclado nas viagens”, se diverte Murray.